Oração da Serenidade

"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar; Coragem para modificar aquelas que posso; e Sabedoria para conhecer a diferença entre elas. Vivendo um dia de cada vez; Desfrutando um momento de cada vez. Aceitando que as dificuldades constituem o caminho à paz. Aceitando, como Ele aceitou, este mundo tal como é, e não como Ele queria que fosse. Confiando que Ele acertará tudo contanto que eu me entregue à Sua vontade. Para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e supremamente feliz com Ele eternamente na próxima. Amém."

"Eu me entrego, com todos os meus problemas e com todos os que eu amo, bem como nossos futuros, nas mãos de Deus, e Nele confio."

"Não mostre ao seu Deus o tamanho do seu problema, mostre ao seu problema o tamanho do seu Deus"

Vida não precisa ter medo, basta ter cuidado!

"Se você for esperar pelo motivo certo para fazer alguma coisa, nunca faz nada."

(J)usto (E)special (S)alvador (U)nico (S)abio.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A ADIADA ENCHENTE - Mia Couto

Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.

Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei

como um rio aguarda a cheia.


Imagem: nuvemsobreoatlantico.blogspot.com

domingo, 29 de dezembro de 2013

Identidade - Mia Couto

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço


(In "Raiz de Orvalho e Outros Poemas")


Imagem: variadasevariaveis.blogspot.com

sábado, 28 de dezembro de 2013

Façamos silêncio - Lisiane Forte

Façamos silêncio.
Nesse momento, alguém pode estar amando.
Sempre há possibilidade do silêncio no instante em que acontece o amor. Quando, diante do que encanta e arrebata, quedamos mudos em reverência.
Porque falamos demais por espelhos e entre sussurros, através de impulsos que nos despertam.
E o amor pode parecer embaraçado por estar ali, instalado, no meio de um discurso sem fim. Não esqueça que nos ensinaram desde cedo, que precisamos ser acolhedores e respeitosos com os hóspedes.
Façamos silêncio.
Relativiza todas as falas e faz cessar todos os juramentos impensados e repetitivos.
E, nesse momento, alguém pode estar amando.


Lisiane Forte

Ainda sobre o tema:

Em um mundo cheio de ruídos, produzir silêncio é uma arte.
Em 1952, o compositor John Cage apresentou uma peça de vanguarda ao público americano. O artista entrou no palco, sentou-se à frente do piano, ligou um cronômetro e, durante exatos 4 minutos e 33 segundos, ficou em silêncio. Para Cage, a música eram os leves murmúrios produzidos pela plateia atônita. Ao final desse tempo, ele levantou-se e agradeceu ao público como se tivesse acabado de apresentar uma de suas obras convencionais. O que o músico queria? Provocar reflexão em meio à ausência de som! Sua extravagante composição virou um clássico executado até hoje, batizado de 4'33.

http://esferadaalma.blogspot.com.br/2013/10/facamos-silencio.html?m=1

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

MEDO DE SE APAIXONAR - Fabrício Carpinejar

"Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada."


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal! Feliz 2014!

Acho que isso expressa tudo que poderia dizer para desejar feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso
Escrito por Regina Brett, 90 anos de idade, assina uma coluna no The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.

"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou.
É a coluna mais solicitada que eu já escrevi."

Meu hodômetro passou dos 90 em agosto,  portanto  aqui vai a coluna mais uma vez:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus Ele pode suportar isso.

9. Economize para a a posentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos, mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic.  Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir  roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você..

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo.

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos  nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

Feliz Natal meus amigos queridos!
Feliz 2014!


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

EROTISMO NAS MÃOS ERRADAS - Fabrício Carpinejar




Não tire foto íntima com seu namorado. Por mais que acredite no relacionamento, por mais que confie na paixão de vocês.

Não faça nenhum vídeo caseiro de sua sexualidade. Não provoque com fotos de sua nudez para atiçar a curiosidade. Evite SMS sensual, que parece no momento somente uma brincadeira.

Vocês podem um dia se estranhar. Vocês podem um dia brigar.

Ele pode sofrer de um ataque de ciúme, de raiva e largar as imagens no Facebook ou espalhar para os amigos.

Ele pode querer se vingar e atacar.

O passado nas mãos erradas vira chantagem. A cumplicidade com o sentimento errado vira complô.

A personalidade de todos muda com a separação. Uns ficam mais carentes e inofensivos, outros ficam mais agressivos e truculentos.

Não estou dizendo que a culpa é de quem se entrega ou se partilha na sedução, o que estou dizendo que não custa se prevenir.

Não tirar fotos ou fazer vídeos é tão importante quanto colocar camisinha durante a relação sexual ou não beber no momento de dirigir.

Não dê nenhuma demonstração de amor expondo o corpo. Amor não precisa de provas.

Se quer se divertir ou se ver ou admirar, use o espelho com ele.


O espelho é uma câmera que não mata.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Quando o amor acaba...




Quando o amor acaba de repente, a mulher tão familiar que está na frente dele do outro lado da mesa do restaurante se transforma numa desconhecida. Em um estalo de dedos, anos de convivência se apagam completamente, como se um gigante tivesse passado uma borracha no álbum de fotos criado pela memória dos dois. O rosto dela lembra vagamente alguém que ele conheceu há muito, muito tempo, mas aquela pessoa já não está mais ali. Se clones humanos existissem, a pessoa do outro lado da mesa do restaurante certamente seria um deles.
O mal-estar é recíproco, mas de natureza diferente. Ao contrário dele, ela sabe muito bem quem está na sua frente – bem até demais. Ela sabe que o que está sendo prometido nunca será cumprido; sabe também que a voz dele diz uma coisa, mas a realidade do cotidiano diz outra. Se houvesse uma máquina capaz de traduzir a alma desse homem, aí talvez ela pudesse acreditar no que ele está dizendo. Nessa noite, porém, as palavras soam mais uma vez como sons sem sentido, frios como os copos intactos sobre a mesa do restaurante.
Dizem que as mulheres se casam imaginando que vão mudar os homens; os homens se casam acreditando que as mulheres não vão mudar. Mas a verdade é que as coisas mudam, mas as pessoas, não. Por que, então, esses dois insistiram tanto tempo e esforço no amor? Porque é da natureza humana. Porque é da inevitável e desumana natureza humana.
Ao contrário do que dizem os poetas, amor acaba, sim. Não há nada de romântico nisso, apenas uma verdade pragmática e palpável. Se você tem apenas um copo d’água para beber, é bom saciar a sede antes do copo ficar vazio. Às vezes apenas esse copo é suficiente, mas há ocasiões em que nem todos os mares do mundo podem acalmar seu coração.
Então é isso. Fim.
Quando o amor acaba, o monstro que estava escondido debaixo do tapete da sala acorda e domina rapidamente o apartamento. Frases que nunca deveriam ter sido sequer pensadas são pronunciadas com a determinação dos carrascos. Não se pode atravessar uma ponte que foi queimada; com as palavras acontece a mesma coisa.
Agora os dois se olham e sabem que não têm mais o que fazer. Dentro deles há uma dor contínua, uma tristeza que sai pelos olhos. Os dois corações estão vazios, porque no lugar daquele amor todo agora não existe nada. E a vida segue assim, imperfeita.


Texto de Felipe Machado do Blog Estadão

domingo, 1 de dezembro de 2013

O AMOR NO COLO - Fabrício Carpinejar


A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.

Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.

Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.

Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.

Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, aguentar o desgosto da falta do beijo.

Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.

Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"

Haverá a indignação como última esperança.

Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.

Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.

Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.

Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.

Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.

Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.

Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.

Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.

Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.

O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.

Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz. Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.


Imagem: umlugarchamadomarte.blogspot.com